sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Vozes de uma dor - Por Bruna Pereira



Não acredito que exista um conceito definido para a invisibilidade, pois é algo que sentimos, vivenciamos e não conseguimos, por mais esforço feito, arrancar esta dor do nosso coração.


A invisibilidade pra mim é uma dor, uma inquietação tão profunda e intensa que me faz pensar que sou impotente, que sou uma pessoa imprestável a ponto de não ser enxergada.


Como é difícil sentir esta dor....


É sentir a rejeição de não poder ser quem você é para não tirar a paz de outras pessoas. É abdicar, apenas, de ser você por ser diferente.


É irônico porque se não existe ninguém igual a ninguém, qual é o problema de ser diferente?


Fico me perguntando porque preciso me esconder! Continuo sendo a mesma, só que agora, ferida. E essa ferida parece que nem pode aparecer porque se ela aparecer todo mundo vai querer saber o motivo dessa dor. E o motivo desta dor é justamente o que não querem que apareça.


Como conviver com essa sensação dolorosa de não poder deixar, de forma alguma, de ser você e ter que se anular por causa de valores que nem são seus? Me pergunto isso todos os dias... Várias vezes por dia!


Ser invisível é tão ruim que às vezes matamos nossos sentimentos, sorrimos quando queremos chorar e gritar para o mundo que existimos. Ninguém sabe disso porque ninguém compreende minha angústia.


Exigem de mim que eu seja uma pessoa que eu não sou e para ser esta pessoa, tenho que mentir, me negar, escolher o que fará todo mundo feliz, menos eu...


É muito sério porque posso ouvir constantemente que sou covarde, no entanto, não é covardia que vem de dentro de mim. É a covardia que começa de fora, vinda de outras pessoas. Covardia por não me aceitarem.


Ninguém sufoca o que tem guardado no peito por achar melhor para si. Guardamos, trancamos a 7 chaves porque sentimos na pele cada dia de nossas vidas...


Dias longos estes, a espera de viver em paz comigo mesma, sem precisar se mutilar um pouco a cada dia. Sem precisar planejar o suicídio diário que é sentir esta dor latente que insiste em me lembrar todo momento as condições de sobreviver resistente nesta realidade.

Esta realidade, quero dizer a você que está lendo, é difícil. Mas, quer saber o que aprendemos com ela?


Aprendemos que, assim como nós, existem outras pessoas nestas condições. Umas já conquistaram mais espaços, outras estão caminhando e conquistando aos poucos. Então, não estamos sozinhas.


Aprendemos também que podemos unir todas as vozes e lutarmos para nossa dor não mais ser silenciada e garantir nossos direitos.


Aprendemos com tudo isso que não precisamos esperar por nada, podemos e devemos correr atrás do que nos é de direito.


E, aprendemos, dentre tantas outras coisas, que nós LÉSBICAS devemos ocupar todos os espaços de poder e unificar nossa voz e nossa luta contra toda forma de Machismo, Racismo e Lesbofobia.






Bruna Pereira é Militante do Grupo Luas e recitou este texto no dia do evento da Visibilidade Lésbica(29/08/09).
 
Vamos debater o texto??
 
Dúvidas :oqueelaspensam@gmail.com
Comentem,unir forças nesta batalha pela nossa liberdade de viver o amor independente da sua genitália é garantia de vitória para todas.

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